Que feliz estava naquele dia o coelhinho branco. Com a proximidade da Páscoa, podia finalmente começar a preparar os ovinhos de chocolate que iria distribuir por todos, e a todos levar muita felicidade.
Nada podia ficar ao acaso, pensou. Os embrulhos teriam de ser muito coloridos, com muitas fitinhas e com vários tamanhos. Pequeninos, para as criancinhas e maiores para os adultos. Por outro lado, é preciso fazer atenção aos mais pequenos que se podem engasgar com as amêndoas. Ai, tanto trabalho…
Em tudo isto pensava o coelhinho branco e tudo queria fazer com o maior detalhe, pelo que todos os dias acordava muito cedo com vista à atempada conclusão da tarefa.
Entretanto, mais um dia de árduo trabalho se passou. O coelhinho branco retira-se para uma merecida noite de sono.
No dia seguinte, acorda com uma estranha sensação de dúvida. Vai de imediato verificar os ovinhos e, a visão foi aterradora. O galo da capoeira vizinha, movido por furioso repente de ciúmes, resolvera destruir todo o seu trabalho. Segundo ele, só aos galos era permitido a posse de ovos pelo que tomou a liberdade de destruir todos os que não lhe pertenciam.
O coelhinho branco ficou muito triste. Aos poucos, a sua tristeza foi-se transformando numa fúria moderada que rapidamente passou a histeria colérica.
Os seus olhos ficaram vermelhos de raiva. As veias do pescoço engrossaram e, embora sem aparente explicação, todos os seus músculos retesaram conferindo-lhe um aspecto de pequeno culturista peludo.
Apodera-se da afiada faca do pão e esventra de imediato o galo que com um último e abafado cacarejar se esvai em sangue. Mas ainda não era suficiente. O coelhinho branco queria mais. Muito mais. Opta por lhe beber o sangue directamente do pescoço, cuja cabeça acabara de decepar. Segue então para a capoeira e lança a cabeça do infeliz para entre as galinhas que, horrorizadas, esvoaçaram em todas as direcções.