quarta-feira, março 23, 2016

Pequeno conto de Páscoa




Que feliz estava naquele dia o coelhinho branco. Com a proximidade da Páscoa, podia finalmente começar a preparar os ovinhos de chocolate que iria distribuir por todos, e a todos levar muita felicidade. 

Nada podia ficar ao acaso, pensou. Os embrulhos teriam de ser muito coloridos, com muitas fitinhas e com vários tamanhos. Pequeninos, para as criancinhas e maiores para os adultos. Por outro lado, é preciso fazer atenção aos mais pequenos que se podem engasgar com as amêndoas. Ai, tanto trabalho…

Em tudo isto pensava o coelhinho branco e tudo queria fazer com o maior detalhe, pelo que todos os dias acordava muito cedo com vista à atempada conclusão da tarefa. 

Entretanto, mais um dia de árduo trabalho se passou. O coelhinho branco retira-se para uma merecida noite de sono.

No dia seguinte, acorda com uma estranha sensação de dúvida. Vai de imediato verificar os ovinhos e, a visão foi aterradora. O galo da capoeira vizinha, movido por furioso repente de ciúmes, resolvera destruir todo o seu trabalho. Segundo ele, só aos galos era permitido a posse de ovos pelo que tomou a liberdade de destruir todos os que não lhe pertenciam.
O coelhinho branco ficou muito triste. Aos poucos, a sua tristeza foi-se transformando numa fúria moderada que rapidamente passou a histeria colérica.  

Os seus olhos ficaram vermelhos de raiva. As veias do pescoço engrossaram e, embora sem aparente explicação, todos os seus músculos retesaram conferindo-lhe um aspecto de pequeno culturista peludo. 

Apodera-se da afiada faca do pão e esventra de imediato o galo que com um último e abafado cacarejar se esvai em sangue. Mas ainda não era suficiente. O coelhinho branco queria mais. Muito mais. Opta por lhe beber o sangue directamente do pescoço, cuja cabeça acabara de decepar. Segue então para a capoeira e lança a cabeça do infeliz para entre as galinhas que, horrorizadas, esvoaçaram em todas as direcções.



 Entra, ainda com o sangue quente a escorrer-lhe pelo rosto e parte com tenebrosa satisfação todos os ovos que encontra pela frente. Urra e inicia uma série de mortais facadas a todas as aterrorizadas galinhas que, em pânico, se empilhavam a um canto. Nenhuma escapou. 
Um pouco adiante, duas pequenas ovelhas assistiam espantadas ao massacre. Erro mortal. Movido pelo recente instinto sanguinário, o coelhinho branco, após cortar as patas às ovelhinhas coloca-lhes as cabeças junto às dobradiças do portão da quinta, que fecha violentamente e que com um barulho seco lhes trucida os crânios.

Ao ver passar o caseiro com a serra elétrica ligada, nova ideia surge. Consegue fazê-lo tropeçar e cair justo em cima de uma porquinha que deitada amamentava os seus filhotes. Ficou de imediato cortada em dois, ante os agudos guinchos dos recém-órfãos leitões que fugiam sem direcção. Ao cair numa poça de água, a serra elétrica produziu um curto-circuito que de imediato fritou o inocente agricultor. 


Ainda insatisfeito, empurra o barril de ácido sulfúrico utilizado pelas baterias para o pequeno lago dos patinhos, que de pronto esturricaram. Aos que ainda tentaram fugir, cortou-lhes as asinhas e empurrou-os de novo para o mortal líquido. 

Nunca se chegou a saber qual o destino do coelhinho branco mas, enquanto a Páscoa for celebrada, podemos ter a certeza que haverá sempre um coelhinho branco disposto a tudo pela nossa felicidade.

Assim sendo, boa Páscoa para todos!


segunda-feira, janeiro 20, 2014

Pequeno conto de Natal


Pequeno conto de Natal
(Acerca de reciclagem)


A neve tingia de branco a pequena aldeia de Serrazes de Biqueirão. Era noite de Natal. Ouviam-se ao longe os sinos da igreja e as angélicas vozes das criancinhas a entoar cânticos Natalícios.

Naquela maravilhosa noite, o céu estava invulgarmente estrelado, coberto com milhares de pequeninos pontos brancos que a todos fizeram lembrar os anjinhos do presépio.

Toda a aldeia vivia um momento de profunda magia. Aquela era uma noite para pôr de parte todos os aborrecimentos e problemas do ano que findava. Era tempo de partilha, tempo de felicidade. Noite de paz, noite de amor.

Em certo momento, começaram a avistar o que lhes pareceu ser estrelas cadentes, muitas estrelinhas cadentes que juntas insistiam em cortar o maravilhoso manto escuro da noite.
 Que bonito, disseram os habitantes cheios de emoção. É por certo o espírito Natalício que nos resolveu abençoar nesta noite de harmonia. Que lindo é o Natal.
E continuaram, felizes, a cantar defronte a igreja.

Alguém reparou entretanto que as estrelas se aproximavam mais, e mais, e cada vez mais.
Quando se tentou dar o alerta, era tarde. Muito tarde. Várias bolas flamejantes de esterco putrefacto tinham já aterrado bem no centro da aldeia cobrindo tudo e todos com uma pasta castanha cuja correcta composição me vou abster de pormenorizar.

Uma reacção química num aterro não muito distante originou uma explosão e consequente projecção de dejectos incendiários e nauseabundos. Por certo alguém terá deitado no lixo um produto perigosamente inflamável.

O pânico foi geral. Ninguém teve tempo para perceber o que se passara. O octogenário da aldeia tombou em imediata arritmia cardíaca. Levado pelo pânico, o cãozinho de estimação do vigário mordeu inadvertidamente a jugular da velhinha que vendia docinhos de Natal. Foi um ápice enquanto tombou, esvaindo-se numa mistura de sangue e pasta castanha, agarrada ao pescoço em quase inaudível pranto.

Em auxílio, alguém enterra uma bengala na cabeça do animal, que urra de dor e com um pulo vai morrer ao colo de uma infeliz paraplégica que ali estava sem conseguir fugir. Em descoordenado movimento, destrava a sua cadeira de rodas que embala sem controle pela ribanceira Ninguém a conseguiu salvar do gélido e mortal rio onde se projectou.

O Vigário, que perdera os óculos na confusão, tropeçou e caiu dentro da fogueira. Ainda se conseguiu erguer, totalmente em chamas, e correndo sem rumo embateu na enorme árvore de Natal que de imediato se incendiou e propagou chamas a todas as barraquinhas da quermesse que a rodeavam.

Quase todos os comerciantes fugiram a tempo, triste excepção para os que vendiam lamparinas, das quais o liquido se inflamou carbonizando-os integralmente.

Enlouquecidos, alguém gritou que a culpa seria dos Músicos, pois o espírito da Natal não houvera gostado das suas interpretações pelo que de pronto agarraram o Regente e o empalaram no chifre de uma rena metálica que por lá ornamentava.

Foi sensivelmente por essa altura que o óleo quente da barraca dos fritos se entornou, esturricando com impiedosa efervescência todos os que se refugiavam sob o seu balcão.

A enorme árvore de Natal resolve tombar no justo momento em que meia dúzia de freiras acorriam do convento alarmadas pela confusão. E, mesmo em cima. Parecia propositado. Nenhuma se salvou.

As chamas passaram céleres às casas da aldeia, na sua maioria em madeira, que em poucos minutos reverteram cinza. Não houve sequer tempo para salvar o lar de idosos que entre agonizantes gritos se volatilizou.

Um novo carregamento de projécteis incendiários tingiu novamente de fogo e castanho o pouco que sobrava de Serrazes de Biqueirão. Uma enorme explosão no centro da aldeia mutilou irreversivelmente a totalidade dos presentes dilacerando-lhes rostos e membros. Os estilhaços libertados ainda conseguiram cegar grande parte daqueles que tentavam desordenadamente fugir.

Nada se podia fazer. O fogo alastrou e a aldeia desapareceu em fumo. Absolutamente ninguém escapou. Foi o literal fim de Serrazes de Biqueirão.

Assim sendo, é dever de todos nós separarmos bem o lixinho que pomos na reciclagem, não é?

Um bom Natal, cheio de docinhos, luzinhas e muito amor no coração!


P.s- Não coloquem este texto no vidrão… sabe-se lá!...

domingo, janeiro 19, 2014

Educação sexual – Análise problemática

Soube, com grata satisfação, que a educação sexual vai passar a ter a seriedade que merece nas escolas Portuguesas. De facto, de tão séria se tornar, a própria ministra da educação admite a hipótese de, sempre no âmbito da referida educação, virem a ser distribuídos gratuitamente preservativos aos alunos. Viva a cultura!

Se ocasionalmente os jovens podem passar ao acto primordial, ao menos que estejam protegidos… o que faz todo o sentido. Aliás, se a medida pega, o governo é obrigado a gastar uma fortuna nas prisões e nos conventos onde ocasionalmente tudo pode acontecer… mas adiante…

Está igualmente anunciada a formação dos professores, com vista à resposta das novas solicitações do ensino. Deixem-me imaginar… Conferências intermináveis com diapositivos e insufláveis?... Técnicos estrangeiros em “lingerie”… Objectos alusivos?... Por certo, dependerá do orçamento do ministério, mas acreditem, caros leitores, que brevemente será uma realidade. Viva a cultura!...

Segundo consta, a ideia base é diluir o tema pelas várias disciplinas. Conseguem imaginar? Ao invés do nosso glorioso Camões, começará a ser lido o “Kamasutra” em tom épico… Ao invés das complicadas equações matemáticas, as acessíveis sessenta e tal posições… Ao invés de um confuso “Kant”, a lenda da fertilidade nas Caldas da Rainha… Substituir as rectas do maciço central pelas curvas de nível da professora de geografia… Trocar a corrida de aquecimento da aula de ginástica por… sei lá o quê!... De qualquer forma, estou de acordo. Viva a cultura!

Também me apraz saber que serão criados gabinetes de apoio, com vista à elucidação das inúmeras e compreensíveis dúvidas dos estudantes. Onde, como, quando, porquê… tudo terá resposta nestes gabinetes especializados.

As famosas perguntas do tipo”espirrei perto da minha namorada. Estará grávida?” ou “o sexo nasal provoca borbulhas?” vão finalmente ter profissionais à altura das respostas, e sempre prontos a distribuir os gratuitos preservativos. Pena o meu tempo de estudante não ter sido brindado com tantas facilidades. Se na escola de Padres que frequentei descobrissem um qualquer vestígio de intenção sexual, uma semana a pão e água nas masmorras seria o mínimo para o demoníaco infractor da boa moral, bem como o óbvio açoitamento em praça pública… mas eram outros tempos. Actualmente, viva a cultura!

E os trabalhos de casa, responsáveis por horas de aborrecimento enfadonho? Coisa absolutamente desumana e horrível, embora actualmente, calculo, se tenham convertido numa tarefa bastante mais suportável:

. “Onde está o meu filho?”, pergunta o Pai… “a fazer o trabalho de casa com a colega”, responde naturalmente a mãe. E eis que entra o filho, já com o preservativo gratuito colocado e pergunta” posso deixar a perna esquerda por cima, Pai?”… “Claro que não, filho… as duas apoiadas e segura-a pela cintura”. O filho agradece e volta para o quarto. Nada como o apoio paternal. Viva a cultura!

A diferença entre os trabalhos de grupo e as orgias romanas será, com o evoluir da situação, pouco expressiva. Os professores exemplificam na aula e os alunos desenvolvem em casa, com vista a uma apresentação no final do ano lectivo. Os melhores terão ainda a cobiçada hipótese de participar num torneio inter-escolas. Como se compreende, será uma boa forma de trocar fluidos… de conhecimento.

Segundo os pedagogos, a hipótese de reprovarem o ano será assim minimizada, mantendo-se firme o ego do estudante, tão necessário ao resto da sua vida activa.
E, claro está, a Arte não será desprezada. A encenação, entre outros, dos clássicos do Marquês de Sade poderá vir a ser tema obrigatório nos teatros dos Liceus.

Quem sabe se, com tantos conhecimentos adquiridos, não serão os porteiros das escolas de Belém, dentro de quinze anos, a apresentar queixa dos alunos… por excesso de cultura. Não digam que não avisei. De qualquer forma,aqui fica o meu voto a favor e, uma vez mais, viva a cultura!…

sábado, janeiro 18, 2014

Esposas I – Análise problemática

Eis outra análise baseada em factos verídicos, talvez com o acrescento de um ou outro detalhe, mas sempre com a isenção que me caracteriza. Passou-se com um amigo com que jantei recentemente.

Assim sendo, está o referido amigo em plena reunião com alguns clientes, quando toca o telefone.
Percebe que é a esposa. Resolve não atender antes de terminar a reunião para então, com toda a calma, lhe poder dedicar a atenção que qualquer esposa merece.

Clica no “no” do telefone e segue a conversa com os clientes. O telefone insiste em tocar. Percebe que é novamente a esposa. Os próprios clientes lhe sugerem que atenda, pois pode ser importante. Atende. Os nomes empregues doravante são fictícios.

-Paulo…
-Diz, amor… estou aqui em reunião…
-Sim, mas é rápido… diz-me só qual é o teu número de camisa…
-De quê?... De camisa?... Não faço ideia…Porquê?...
-Estou aqui a comprar-te umas camisas… e precisava de saber o número…
-Ò Ana, não sei… mas não podemos falar disso depois?...
-Mas agora é que estou na loja…
-Mas estou a meio de uma reunião…
-Também não te custa nada… e só dizeres o número…
-Mas não sei… a sério, não sei…
-E não podes ver?
-Ver?... Ver como?...
-Tiras a que tens vestida e vês…
-Ò Ana… mas estou a meio de uma reunião…
-Pedes licença e vais num instante à casa de banho…
-Não; Ana… agora não posso. Desculpa mas agora não posso.
-Estás a ver?... Estás a ver como é que tu és?.... Eu esforço-me por te arranjar uma camisa… e
tu tratas-me assim…
-Mas assim como, Ana… só te disse que agora não posso… estou em reunião… podemos falar
daqui a meia hora?...
-Mas está em saldo… e daqui a bocado pode já não haver…
-Ò Ana… traz um tamanho largo…
-Mas isso não pode ser assim… até porque nos saldos eles não aceitam devoluções…vê lá o
número…

Entretanto os próprios clientes, para o deixar mais à vontade, fazem sinal que vão beber um café. Ele faz-lhes aquele olhar de “desculpem lá qualquer coisinha” e continua.

-Pronto, Ana… diz lá…
-Outra vez?... Já te disse… diz-me o número da tua camisa…
-Pronto… espera… deixa ver…

Despe o casaco, desaperta a gravata e tira a camisa. Procura mas não encontra nada escrito.

-Estou aqui a ver… mas não descubro nada…
-Ou está no colarinho ou está de lado… vê lá bem…

Ele procura novamente, mas em vão.

-Não, não está cá nada…
-Como é que não está nada?... Arrancaste a etiqueta?...
-Eu?... Que etiqueta?...
-A etiqueta do número…
-Não, Ana… não arranquei nada…
-Então como é que ela desapareceu?...
-Ò Ana… como é que queres que eu saiba… queres que chame a polícia?...
- (Aumentando o tom) Olha… estou eu aqui a fazer o favor de te comprar roupa… e tu ainda por
cima gozas?...
-Não estou a gozar… mas não sei da etiqueta…
-Se calhar o melhor é seres tu a tratar das tuas coisas… eu é que sou parva por ainda me
preocupar contigo…
-Não é isso, Ana… desculpa… mas apanhaste-me a meio de uma reunião…
-Sim… quando é para mim… tens sempre qualquer coisa primeiro…
-Mas estou a trabalhar…
- (Amuada) Então está bem… falamos logo.

E desliga o telefone deixando o meu amigo sem camisa e com a gravata afrouxada. Quando acaba de se vestir, a esposa telefona novamente.

-Paulo?...
-Diz…
-Agora já não é pela camisa… já desisti… mas a que horas é que vamos para casa dos meus
pais?...
- (Lembrando-se) Ah… pois é… o jantar… Ò Ana… só vou conseguir sair daqui lá pelas oito…
-Só às oito? … Então… a que horas é que lá vamos chegar?... Já sabes que eles não gostam de
jantar tarde…
-Pois sei, pois sei… mas não vou conseguir sair antes disso…
-Já sabias do jantar há uma semana… podias ter arranjado maneira de sair mais cedo…pelo
menos hoje…
-Ò Ana… mas são coisas que aparecem… como é que eu ia adivinhar…
-Mas sabes que eles não gostam de jantar tarde…
-Pois é… mas vão ter de compreender…
-Claro… quando é o que tu queres, todos têm de compreender… mas tu não fazes nada para
compreender os outros…
-Ò Ana… mas estou a trabalhar…
-Sim… isso já ouvi… se calhar o melhor é desmarcar…
-Não é preciso… diz só que chegamos um bocado atrasados…
-Como da outra vez…
- (Decidido) Desculpa, Ana… tenho aqui clientes… temos de falar depois… agora não posso…
-Não queres falar mais, não é?... Quando não te interessa…
-Não poso, Ana… não posso… estou a trabalhar… falamos depois…

Ela desliga. Ele fica a olhar para o telefone com ar cansado e combalido. Os clientes regressam. Novamente o telefone toca. Mais uma vez pede desculpa e, revirando os olhos, atende.

-Ana…
- Só para te dizer que não precisas de me tratar mal quando te falo para o emprego… mas tu és
assim mesmo. Já te comprei a camisa e o jantar logo é pelas oito e meia. Não te atrases.

E desliga.

Confessem, caros leitores… que seria de nós sem elas?
Até breve.

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Bebés a metade do preço – Análise problemática

É indiscutível! Fazer compras em terras Espanholas é uma belíssima forma de poupança. Já todos o sabíamos! Desde o caramelo à gasolina, tudo é substancialmente mais barato no País vizinho.

Querem saber? Se a maioria da nossa população residisse perto da fronteira, ao invés do litoral, já há muito teríamos fechado as portas e já há muito que o nosso comércio se teria volatilizado… Enfim…

De qualquer forma, não só o povo reconhece esta vantagem comercial. A própria classe governante está cada vez mais rendida à competitividade económica dos “nuestros hermanos”, tanto que optou por encerrar algumas maternidades, alegando as referidas questões económicas, e transferir as nossas grávidas para Badajoz!...Olé!...
Pronto, é o início da debandada… começou agora. Se vamos nascer a Espanha, o melhor é ficar logo por lá, ou pelo menos aproveitar o carrinho do Bebé para o encher de compras no supermercado.
Claro que se podia aproveitar e tentar a segunda nacionalidade só que, infelizmente, os nossos vizinhos não nos facilitam a coisa a esse ponto. Vá-se lá perceber… Paciência.

De qualquer forma, fazer nascer os petizes em Espanha é uma pechincha. Segundo consta, em Elvas o parto custa cerca de 3000€ enquanto que em Badajoz se fica pelos 1900€. Uma espécie de saldos… não do “corte Inglês” mas do corte do cordão umbilical.

Faz sentido e já estamos habituados a estes desníveis económicos.
Não ficaria até mais barato encerrar todo o parlamento e deixar Madrid tomar conta do assunto? Com certeza que sim… podia ser até que os ordenados subissem, e que a maioria dos preços descesse… ou isto são “bocas foleiras”?... Talvez. Perdoem-me o mau feitio…
Já agora, pergunto: Não sairia também mais barato transferir os funerais para Espanha? Imagino as funerárias a oferecer calamares e sevilhanas aos desgostosos familiares durante a cerimónia… tudo ficaria mais alegre e é claro que, desgosto por desgosto, sempre seria um desgosto mais económico… o que está de acordo com os nossos conceitos de economia, por muito básicos que sejam! Poupança, a quanto obrigas…

Bem… se nascer por lá é mais barato e se morrer também pode ser, só nos falta a parte existencial, ou seja, viver! Porque será que o governo não nos encaminha também para lá viver? Explico porque não: Quem é que então pagaria os abençoados impostos que, com mais umas ajudas de Bruxelas, ainda permitem que este País ainda se arraste por mais algum tempo?

Pois é, caros contribuintes… Podem lá ir nascer e morrer mas de resto evitem lá passar porque não há nada de interessante nem de vantajoso... Quem é que quereria, por exemplo, comprar um carro a metade do preço? Ninguém, é claro… seria uma atitude pouco chique. Ninguém nos pode tirar o Lusitano prazer de contribuir para a economia do País através do nosso vistoso imposto Automóvel. É um direito que nos assiste… Claro que fazer as compras no supermercado e poupar 40% na factura é igualmente um pensamento que só existe nas ideias da classe média. Por cá, gostamos de pagar mais, mas de ter a consciência que contribuímos para as reformas da nossa classe governante. É outro prazer que nos assiste…

Assim sendo, dar início à nossa descendência em território nacional também poderia ser um prazer que nos assiste… mas não. Vão nascer longe, caros Portugueses e apareçam quando puderem fazer parte da população activa.

Para finalizar, aqui fica um pedido desculpa aos meus queridos e lusitanos leitores pois calculo que de esta minha “análise” se possa denotar alguma ausência de Patriotismo. Não. Creiam-me, não. Adoro o meu País, com os eléctricos, as eternas obras da Praça do Comércio, o fado e as sardinhas… por isso vos peço, excelentíssimos senhores governantes, não maltratem o meu ainda inalterado amor por Portugal… Só quero que compreendam que as minhas bases começam a ceder…

quinta-feira, janeiro 16, 2014

Porte de armas – Análise problemática

Acreditem ou não, o Parlamento italiano aprovou recentemente uma lei que autoriza o uso e porte de armas de fogo a qualquer cidadão que o deseje. Felizmente, o seu uso será limitado a casos de legítima defesa, seja isso o que for...

Em nome do desporto, todos esperamos que o guarda – redes da selecção Italiana não leve esta medida muita à risca, mas a nova lei vai permitir a qualquer pessoa disparar a matar, desde que se sinta ameaçada na sua integridade ou na defesa dos seus bens.

Parece-me uma lei coerente. Só pela violência é possível deter a violência, já todos sabíamos.

O regresso aos saudosos tempos do “Far west” foi aprovado por maioria no parlamento. “Se se sentirem ameaçados, disparem sem hesitar”. Eis a nova palavra de ordem dos descendentes de Júlio César.

O governo vê nesta medida uma forma de resposta à contínua violência existente no norte do País. A sempre actual técnica do “olho por olho” fará com que o assaltante pense duas vezes antes de furtar o carregamento de “canneloni” congelados que semanalmente chega aos restaurantes do bairro vizinho.

Deixa de ser necessário, à laia de mafioso vingativo, colocar a cabeça do cavalo na cama do inimigo. Uma vez alegada “integridade ameaçada”, qualquer um pode descarregar a sua automática, legalmente comprada, na cabeça do ameaçador. Prático, convenhamos, e a classe equídea agradece…

Como pacífico Português, não consigo ficar indiferente a esta atitude. Ser ameaçado na minha integridade ou nos meus bens autorizam pronto morticínio?... Quais as vantagens de tão pacifista lei? E se a moda pega e ela chega ao nosso brando País? O que se poderia passar, em nome de uma “integridade ameaçada”? Vejamos:

Uma qualquer aguerrida discussão futebolística, umas cervejas à mistura, um inconsequente mas brusco movimento, e truca… uma bala entre os olhos. “Eu sabia lá que o raio do benfiquista ia puxar da carteira” afirmaria o justiceiro, “ julguei que ia sacar do cartão de sócio e senti-me ameaçado na minha integridade“. Seria um caso legítimo, ao abrigo da nova lei.

E, por falar nisso, quantos de nós não nos sentimos alguma vez ameaçados na nossa integridade orçamental quando, por exemplo, a conta do restaurante traz uns zeros a mais? Tudo se resolveria da seguinte forma: O cliente, ameaçado na sua integridade, iria disparar sobre o empregado. A empregada de mesa, por sinal esposa do recém defunto, dispararia por sua vez sobre o cliente pois a integridade do marido fora mortalmente atingida. A mulher do cliente, também com a integridade fragilizada, dispararia sobre a empregada e a cozinheira, mãe da empregada de mesa e igualmente fragilizada, abriria a cliente com a faca de escamar peixe. O patrão, ao entrar e sem perceber o enredo, dispararia sobre a cozinheira na tentativa de defender a cliente e… ficaria sozinho na sala.
Ao ver que tinha agido mal, a sua integridade seria abalada. O suicídio seria inevitável.

E, quem vai pagar a conta, perguntarão? Ninguém, caro leitor. Ninguém vai pagar a conta porque não sobra ninguém para a pagar. Se ainda fosse a tempo, aconselharia o patrão a encerrar o restaurante e optar por uma Funerária. Negócio de futuro.

Claro que, ao abrigo dessa lei, eu mesmo poderia entrar a pontapé pela agência do meu banco, manifestar-lhes a minha integridade profundamente ferida pelas últimas comissões que me debitaram, e fazer a segunda parte do “massacre de S. Valentim”. Teria a justiça e alguns clientes a meu favor…

Correr as testemunhas de Jeová a tiros de caçadeira poderia vir a ser, para aqueles que as vissem como ameaça à sua integridade, uma atitude perfeitamente compreensível. O fiscal da electricidade, caso não limpasse os pés à entrada, poderia vir a seguir o mesmo caminho e até a rapaziada responsável pelos folhetos das “pizzas” nas caixas de correio, se apanhassem alguém em dieta e mal disposto, corriam o eminente risco de serem baleados nas partes baixas.

Fica para todos pensarmos, e por aqui me fico. Já agora, estou a pensar pedir um aumento ao meu patrão. Em princípio, e receando a minha frágil integridade…não o negará!...

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Crianças - Análise problemática

Pois é…sempre presentes nos nossos corações, os queridos anjinhos genéticos são acima de tudo seres verdadeiramente insubstituíveis. Meigos, ternos e tranquilos são a peça fundamental de uma harmonia caseiramente familiar.
Atrevo-me então, se me permitem, a rotulá-las no que concerne o seu grau de tranquilidade, uma vez que se trata de uma tarefa unicamente acessível, perdoem-me a modéstia, a almas comprovadamente sensíveis.Assim sendo, tomemos a título de exemplo os distintos comportamentos de três aleatórias crianças numa situação comum: a ida ao aniversário de um coleguinha da escola.

Criança irrequieta – Durante o trajecto, interroga pela enésima vez o pai sobre o tempo que “falta p`ra chegar”. Não satisfeita com a resposta, opta por lhe tapar os olhos, conseguindo assim uma cena de derrapagem muito semelhante ao “cartoon” que viu no ultimo domingo pela manhã. Regozija.
Após óbvia represália opta, entre soluços reprimidos, por mostrar a língua aos outros automóveis numa assumida manifestação de superioridade infantil.
Quando finalmente é descarregado na tão esperada festa, grita imediatamente ao ouvido da dona de casa e corre a meter o indicador na tigela de “mousse”.
Entra pelo quarto das meninas, descarrega o ainda limitado vernáculo e segue para a companhia dos rapazes, a quem incentiva a destruição maciça do planeta terra. Organiza um jogo de futebol na sala de estar e é imediatamente acorrentado até que os pais o venham buscar.

Criança normal – Tenta comer, durante o trajecto, os chocolates cuidadosamente embrulhados para o aniversariante. Liberta gases e ri despregadamente. Uma vez na festa corre a mostrar aos amigos o seu novo recorde no “Game boy”, ao qual dedicam grande parte da tarde.
Após o lanche, opta por jogar no computador do pai do amigo. Aproveita para tentar ir buscar novos jogos à Internet. Empanturra de vírus a infeliz máquina e de lágrimas o infeliz pai, que viu o trabalho das últimas semanas irremediavelmente destroçado.
Ao abrir a janela da varanda, a corrente de ar destrói o castelo de cartas com que o Avô pacientemente se envolveu grande parte da tarde.
Ao tentar reparar o dano, fecha bruscamente a porta e estilhaça o vidro, quase vitimando cardiacamente grande parte dos convivas. Bebe coca cola com os amigos e faz concursos de arrotos na cozinha. Puxa a cauda ao gato e besunta-o com chantili do bolo. Grita um pouco mais pela casa e é finalmente resgatado pelos pais.

Criança calma - Aproveita a viagem para consultar o pai sobre algumas dúvidas com que ficou na última aula de história. Ao chegar à festa, cumprimenta de imediato os donos da casa e entrega a prenda ao aniversariante.
Segue ordeiramente para a sala de estar e cumprimenta individualmente toda a gente antes de seguir para o quarto onde estão as suas amigas. Apresenta-lhes a sua boneca nova. Até ao lanche, nada mais faz do que a pentear e trocar de roupa com outras “Barbies”.
Claro que, ante tão invejável comportamento, ninguém iria supor que foi intencional o facto de ter tropeçado no jarrão “Ming” que há décadas acompanhava a família, destruindo-o para todo o sempre.
Também ninguém atribuiu intencionalidade ao copo de sumo de laranja que lhe escapou da mão durante a queda e foi repousar dentro da cristaleira da infeliz mãe do amigo, que de imediato começou a soluçar.
Começaram a surgir as primeiras suspeitas quando entornou manteiga de amendoim no tapete persa e, desorientada, se sentou na mesa de vidro secular. Quando lhe imploraram para não se mexer, ergueu-se assustada com os braços para cima causando danos irreparáveis no lustre Vitoriano que ornamentava o teto.
Conseguiu assustar eficazmente o gato que, graças às suas garras, trepou pelos cortinados de seda, vindo a estatelar-se de forma menos suave na travessa das sandes de queijo. O regresso dos Pais da criança foi aplaudido em ovação, ante o espanto destes. Estranharam também quando a porta bateu forte à sua saída.

E como vêm, nem tudo o que parece é… será preferível o primeiro exemplo, de criança nitidamente destrutiva mas transparente na sua ferocidade? O segundo exemplo, o da criança tida por normal ou a terceira com todo o seu encantador e tímido poder destrutivo? Não é obrigado a responder, caro leitor, sei que pensa…que prefere não pensar nisso…Até sempre!

Abordagens - Análise problemática

E aproveito, embuído neste meu espírito de "porquê" problemático, para sugerir algumas dicas a todos aqueles homens que tem por louvável objectivo a corte a uma Dama.

Aproveitem... é tudo baseado em factos verídicos... assim sendo,fui recentemente confrontado com o desespero de um amigo, fracassado em todos os seus melhores recursos na tentativa de convencer uma Dama a acompanha-lo na grata façanha... de nutrir uma tosta mista perto do mar, imagine-se...

Segundo consta, tudo fez o que estava ao seu alcance e apenas obteve, como reacção aos seus esforços, uma correcção àquela que deveria ter sido a sua forma de agir: - Falou muito, disse-lhe ... -“ nada como o solitário recatamento que deixe transparecer toda a nossa beleza interior”, por muito que arrisquemos comprometer os próximos trinta anos, em esperança de vermos captada a nossa desesperada telepatia.

Pediu-me então um conselho. Qual a melhor actuação? Como conseguir a tão desejada companhia para o grandioso projecto - tosta mista-? Bem, a história ensina-nos!... Cada povo tem a sua técnica... Assim sendo:

Técnica Lusitana – A técnica do domínio total. Convidá-la a comer carapaus no mercado do Rato, levá-la de carro e com Música estridente a sorver Cocktail`s no ”Bora-Bora”. Quando já não tiver forma de lhe resistir, já estiver estonteada com todo o seu charme propor-lhe, com olhar arrebatador e um ligeiro ondular de anca, a tão ambicionada tosta à beira mar. Mesmo depois dos carapaus, não pode falhar...

Técnica Castelhana – A técnica do deslumbre. Arranjar forma de lhe mostrar, como se nada fosse, fotos da última corrida em que o touro fugiu espavorido à sua frente. Brindá-la com um “pot-pourri” de passos de Flamenco e empanturrá-la em Calamares, sangrias e tapas. Depois de tudo isto e cumprida “la siesta”, não lhe vai conseguir negar nada, muito menos a tal tosta à beira mar...

Técnica Francesa – A técnica do charme. Fazer-lhe crer que você é muito superior aos “escargots” que consome. Demonstrar-lhe que é um entendido em vinhos e um estudioso das potencialidades anímicas do nobre líquido. Comer o corpo da rã e deixar galantemente as perninhas para a senhora. Utilizar um chapéu de marujo enquanto lhe assobia uma valsa, finda a qual lhe sugere a tão ambicionada tosta à beira mar...

Técnica Napolitana – A técnica do Spaghetti. Fazê-la deslumbrar com as suas habilidades no equilíbrio das pastas. Referir-se a monumentos históricos como se fossem de sua autoria. Agarrar um Bandolim e gritar-lhe um comovente “Sole mio” enquanto equilibra um “fetucinne” com a ponta do sapato. Estarrecê-la com a hipótese de ser a terra a estar torta, e não a inocente torre de Pizza. Dizer-lhe o quanto aprecia os concertos de violino de Da Vinci... e convidá-la então para a tosta à beira mar...

Técnica Germânica - A técnica militar. Fazer-lhe a continência antes de lhe oferecer uma Rosa, devidamente numerada, adquirida na secção de aprovisionamento do Quartel. Apresentar-se pelo número da Academia e, sempre que ela o referir, levantar-se, estalar com os calcanhares e manifestar a sua inteira disponibilidade no esclarecimento de qualquer dúvida que lhe possa surgir. Convencê-la a assistir às suas técnicas de guerrilha no litoral, findas as quais se poderão deliciar com uma nutritiva tosta...

Técnica Helvética – A técnica do queijo. Calcula-se que, de entre todos, são os que de maior argumentação necessitam, tendo em conta a extrema continentalidade do País. São poucos os relatos destas tentativas... segundo consta, convidam-na a contar os buracos do queijo, elaborado artesanalmente por um Tio de outro cantão, e a beber licor de Genebra.
O facto de não termos relato de qualquer tentativa bem sucedida dever-se-á, com algum grau de certeza, ao aborrecimento enfadonho da técnica. Caso algum leitor possua dados sobre o tema, agradecemos que entre em contacto com a nossa redacção.

Técnica Britânica – A técnica da educação. Apresentar-se de indumentária a rigor. Pedir desculpa por não ter chegado atrasado. Pedir desculpa pelo incómodo, pedir desculpa por estar a chover. Deitar o casaco para cima de tudo o que se assemelhe a poça de água, para que ela passe por cima. Pedir desculpa à poça de água. Pedir desculpa pelo atrevimento, e pedir desculpa por a convidar a comer a famosa tosta à beira mar... Desculpem os caros leitores, mas tem de resultar...

Técnica Americana – A técnica patriótica. Convidá-la a jogar dardos para uma foto de um terrorista. Mostrar-lhe as miniaturas de mísseis que o pai colecciona. Leva-la a assistir às manobras da gloriosa força aérea Americana. Oferecer-lhe os pontos acumulados no cartão de cliente do “Mac Donald`s”.
Mostrar-lhe a sua guitarra e falar-lhe de projectos para uma banda “Country”. Surpreendê-la com uma nova sanduíche, muito em voga na Europa, e que, embora pecando por não ser carne de vaca, tem igualmente bastante encanto e é passível de ser consumida com uma Cola bastante fresca ...sugira-lhe a beira mar para essa experiência...

E, uma vez mais, esta minha coluna escasseia. Muito haveria que relatar sobre tão gratificante tema, sendo com alguma mágoa que o abandono. Ficam os meus votos para que estas técnicas se revelem úteis, caso algum dos leitores se encontre em idêntica e problemática situação. Até sempre!