sexta-feira, janeiro 10, 2014

Crianças - Análise problemática

Pois é…sempre presentes nos nossos corações, os queridos anjinhos genéticos são acima de tudo seres verdadeiramente insubstituíveis. Meigos, ternos e tranquilos são a peça fundamental de uma harmonia caseiramente familiar.
Atrevo-me então, se me permitem, a rotulá-las no que concerne o seu grau de tranquilidade, uma vez que se trata de uma tarefa unicamente acessível, perdoem-me a modéstia, a almas comprovadamente sensíveis.Assim sendo, tomemos a título de exemplo os distintos comportamentos de três aleatórias crianças numa situação comum: a ida ao aniversário de um coleguinha da escola.

Criança irrequieta – Durante o trajecto, interroga pela enésima vez o pai sobre o tempo que “falta p`ra chegar”. Não satisfeita com a resposta, opta por lhe tapar os olhos, conseguindo assim uma cena de derrapagem muito semelhante ao “cartoon” que viu no ultimo domingo pela manhã. Regozija.
Após óbvia represália opta, entre soluços reprimidos, por mostrar a língua aos outros automóveis numa assumida manifestação de superioridade infantil.
Quando finalmente é descarregado na tão esperada festa, grita imediatamente ao ouvido da dona de casa e corre a meter o indicador na tigela de “mousse”.
Entra pelo quarto das meninas, descarrega o ainda limitado vernáculo e segue para a companhia dos rapazes, a quem incentiva a destruição maciça do planeta terra. Organiza um jogo de futebol na sala de estar e é imediatamente acorrentado até que os pais o venham buscar.

Criança normal – Tenta comer, durante o trajecto, os chocolates cuidadosamente embrulhados para o aniversariante. Liberta gases e ri despregadamente. Uma vez na festa corre a mostrar aos amigos o seu novo recorde no “Game boy”, ao qual dedicam grande parte da tarde.
Após o lanche, opta por jogar no computador do pai do amigo. Aproveita para tentar ir buscar novos jogos à Internet. Empanturra de vírus a infeliz máquina e de lágrimas o infeliz pai, que viu o trabalho das últimas semanas irremediavelmente destroçado.
Ao abrir a janela da varanda, a corrente de ar destrói o castelo de cartas com que o Avô pacientemente se envolveu grande parte da tarde.
Ao tentar reparar o dano, fecha bruscamente a porta e estilhaça o vidro, quase vitimando cardiacamente grande parte dos convivas. Bebe coca cola com os amigos e faz concursos de arrotos na cozinha. Puxa a cauda ao gato e besunta-o com chantili do bolo. Grita um pouco mais pela casa e é finalmente resgatado pelos pais.

Criança calma - Aproveita a viagem para consultar o pai sobre algumas dúvidas com que ficou na última aula de história. Ao chegar à festa, cumprimenta de imediato os donos da casa e entrega a prenda ao aniversariante.
Segue ordeiramente para a sala de estar e cumprimenta individualmente toda a gente antes de seguir para o quarto onde estão as suas amigas. Apresenta-lhes a sua boneca nova. Até ao lanche, nada mais faz do que a pentear e trocar de roupa com outras “Barbies”.
Claro que, ante tão invejável comportamento, ninguém iria supor que foi intencional o facto de ter tropeçado no jarrão “Ming” que há décadas acompanhava a família, destruindo-o para todo o sempre.
Também ninguém atribuiu intencionalidade ao copo de sumo de laranja que lhe escapou da mão durante a queda e foi repousar dentro da cristaleira da infeliz mãe do amigo, que de imediato começou a soluçar.
Começaram a surgir as primeiras suspeitas quando entornou manteiga de amendoim no tapete persa e, desorientada, se sentou na mesa de vidro secular. Quando lhe imploraram para não se mexer, ergueu-se assustada com os braços para cima causando danos irreparáveis no lustre Vitoriano que ornamentava o teto.
Conseguiu assustar eficazmente o gato que, graças às suas garras, trepou pelos cortinados de seda, vindo a estatelar-se de forma menos suave na travessa das sandes de queijo. O regresso dos Pais da criança foi aplaudido em ovação, ante o espanto destes. Estranharam também quando a porta bateu forte à sua saída.

E como vêm, nem tudo o que parece é… será preferível o primeiro exemplo, de criança nitidamente destrutiva mas transparente na sua ferocidade? O segundo exemplo, o da criança tida por normal ou a terceira com todo o seu encantador e tímido poder destrutivo? Não é obrigado a responder, caro leitor, sei que pensa…que prefere não pensar nisso…Até sempre!

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