sábado, janeiro 18, 2014

Esposas I – Análise problemática

Eis outra análise baseada em factos verídicos, talvez com o acrescento de um ou outro detalhe, mas sempre com a isenção que me caracteriza. Passou-se com um amigo com que jantei recentemente.

Assim sendo, está o referido amigo em plena reunião com alguns clientes, quando toca o telefone.
Percebe que é a esposa. Resolve não atender antes de terminar a reunião para então, com toda a calma, lhe poder dedicar a atenção que qualquer esposa merece.

Clica no “no” do telefone e segue a conversa com os clientes. O telefone insiste em tocar. Percebe que é novamente a esposa. Os próprios clientes lhe sugerem que atenda, pois pode ser importante. Atende. Os nomes empregues doravante são fictícios.

-Paulo…
-Diz, amor… estou aqui em reunião…
-Sim, mas é rápido… diz-me só qual é o teu número de camisa…
-De quê?... De camisa?... Não faço ideia…Porquê?...
-Estou aqui a comprar-te umas camisas… e precisava de saber o número…
-Ò Ana, não sei… mas não podemos falar disso depois?...
-Mas agora é que estou na loja…
-Mas estou a meio de uma reunião…
-Também não te custa nada… e só dizeres o número…
-Mas não sei… a sério, não sei…
-E não podes ver?
-Ver?... Ver como?...
-Tiras a que tens vestida e vês…
-Ò Ana… mas estou a meio de uma reunião…
-Pedes licença e vais num instante à casa de banho…
-Não; Ana… agora não posso. Desculpa mas agora não posso.
-Estás a ver?... Estás a ver como é que tu és?.... Eu esforço-me por te arranjar uma camisa… e
tu tratas-me assim…
-Mas assim como, Ana… só te disse que agora não posso… estou em reunião… podemos falar
daqui a meia hora?...
-Mas está em saldo… e daqui a bocado pode já não haver…
-Ò Ana… traz um tamanho largo…
-Mas isso não pode ser assim… até porque nos saldos eles não aceitam devoluções…vê lá o
número…

Entretanto os próprios clientes, para o deixar mais à vontade, fazem sinal que vão beber um café. Ele faz-lhes aquele olhar de “desculpem lá qualquer coisinha” e continua.

-Pronto, Ana… diz lá…
-Outra vez?... Já te disse… diz-me o número da tua camisa…
-Pronto… espera… deixa ver…

Despe o casaco, desaperta a gravata e tira a camisa. Procura mas não encontra nada escrito.

-Estou aqui a ver… mas não descubro nada…
-Ou está no colarinho ou está de lado… vê lá bem…

Ele procura novamente, mas em vão.

-Não, não está cá nada…
-Como é que não está nada?... Arrancaste a etiqueta?...
-Eu?... Que etiqueta?...
-A etiqueta do número…
-Não, Ana… não arranquei nada…
-Então como é que ela desapareceu?...
-Ò Ana… como é que queres que eu saiba… queres que chame a polícia?...
- (Aumentando o tom) Olha… estou eu aqui a fazer o favor de te comprar roupa… e tu ainda por
cima gozas?...
-Não estou a gozar… mas não sei da etiqueta…
-Se calhar o melhor é seres tu a tratar das tuas coisas… eu é que sou parva por ainda me
preocupar contigo…
-Não é isso, Ana… desculpa… mas apanhaste-me a meio de uma reunião…
-Sim… quando é para mim… tens sempre qualquer coisa primeiro…
-Mas estou a trabalhar…
- (Amuada) Então está bem… falamos logo.

E desliga o telefone deixando o meu amigo sem camisa e com a gravata afrouxada. Quando acaba de se vestir, a esposa telefona novamente.

-Paulo?...
-Diz…
-Agora já não é pela camisa… já desisti… mas a que horas é que vamos para casa dos meus
pais?...
- (Lembrando-se) Ah… pois é… o jantar… Ò Ana… só vou conseguir sair daqui lá pelas oito…
-Só às oito? … Então… a que horas é que lá vamos chegar?... Já sabes que eles não gostam de
jantar tarde…
-Pois sei, pois sei… mas não vou conseguir sair antes disso…
-Já sabias do jantar há uma semana… podias ter arranjado maneira de sair mais cedo…pelo
menos hoje…
-Ò Ana… mas são coisas que aparecem… como é que eu ia adivinhar…
-Mas sabes que eles não gostam de jantar tarde…
-Pois é… mas vão ter de compreender…
-Claro… quando é o que tu queres, todos têm de compreender… mas tu não fazes nada para
compreender os outros…
-Ò Ana… mas estou a trabalhar…
-Sim… isso já ouvi… se calhar o melhor é desmarcar…
-Não é preciso… diz só que chegamos um bocado atrasados…
-Como da outra vez…
- (Decidido) Desculpa, Ana… tenho aqui clientes… temos de falar depois… agora não posso…
-Não queres falar mais, não é?... Quando não te interessa…
-Não poso, Ana… não posso… estou a trabalhar… falamos depois…

Ela desliga. Ele fica a olhar para o telefone com ar cansado e combalido. Os clientes regressam. Novamente o telefone toca. Mais uma vez pede desculpa e, revirando os olhos, atende.

-Ana…
- Só para te dizer que não precisas de me tratar mal quando te falo para o emprego… mas tu és
assim mesmo. Já te comprei a camisa e o jantar logo é pelas oito e meia. Não te atrases.

E desliga.

Confessem, caros leitores… que seria de nós sem elas?
Até breve.

3 comentários:

Duarte Nunes de Almeida disse...

Assustadora/divertidamente real.
Grande Abraço DNA.

Anónimo disse...

Dura realidade da vidinha!
Pois é... Rexina? Achigã? Torresmos do Rissol? Cá vamos andando obrigado!

A. João Soares disse...

Sem elas seria um paraíso. Não queremos muito delas e mesmo isso nos recusam... a paciência para compreenderem os nossos compromissos... e as nossas necessidades específicas!!!!!!
Homem sofre:::Abraço
Pode transcrever o post do Do Miradouro, com o que me dá muito prazer.
Um aberaço