segunda-feira, abril 03, 2006

Progenitores – Análise problemática

Dos poucos valores que ainda subsistem na nossa sociedade, a família é, a meu ver e na maioria das opiniões, um dos inquestionáveis resistentes.
O casamento, sem me querer alongar no seu conceito e focando unicamente o ponto de vista antropológico, não é mais do que a união entre duas pessoas de sexo diferente, apoiada por um contrato matrimonial. O diferente, frise-se, nada tem a ver com o tamanho dos órgãos mas sim com o inicial sexo de cada um dos intervenientes. Mas adiante…

O que se passa com a nossa vizinha Espanha, não deixa de me espantar…e vou ter de desabafar, que é para isso que me pagam!...No registo civil, ao invés dos petizes terem o nome do Pai e da Mãe, passaram a ter o nome do “progenitor A” e “progenitor B”…
Espantado, caro leitor? Porquê? Acha que esta é uma forma de abandono de identidade afectiva, ou é algo que interfere directamente no seu conceito de família?...
É certo que atravessamos tempos de mudança… as uniões entre os mesmos sexos, embora uma minoria, estão cada vez mais em agenda diária, e será pelo evoluir destas situações que, em minha modesta perspectiva, tudo isto acontece.

Assim sendo, fará mais sentido designar os desactualizados Pais por actualizados progenitores? Sim, talvez. É um termo mais abrangente…

Quem somos nós para impor a uma minoria um conceito ultrapassado de família? Como humanos solidários que somos aderimos ao inverso, ou seja, abdicamos das nossas convicções em prol da referida minoria… que desta forma não se sentirá marginalizada.

Consegue calcular o diálogo entre as crianças da pré-primária? “Foste fazer queixinhas à Professora… és um menino mimado da progenitora”… “Não fui eu… foi aquele filho da progenitora… e se me bates vou fazer queixa ao meu progenitor”…”mas o meu progenitor é mais forte que o teu”…”Isso é que não é”…
E diz a professora: “Meninos, avisem os vossos progenitores que vai haver reunião de progenitores na próxima sexta-feira”… “O A ou o B, senhora professora?”

Claro que com o passar dos anos nos habituaremos às recentes transformações que irão, a curto prazo, alterar toda a terminologia familiar…Vejamos:
O Pai passa a progenitor A. A Mãe a progenitor B. O irmão do Pai passa a Tio A e o da Mãe a Tio B. O filho do irmão do Pai passa a primo A. Do irmão da Mãe a primo B. No caso do progenitor A, se casar pela segunda vez, o enteado tem nele o progenitor AA e o primo do enteado, pela parte do progenitor B é livre de o encarar como o Tio AB, tendo em conta que é o progenitor A de uma família (que não a sua), que reside com outra família (a do seu primo pela parte da mãe, logo B) e que por afinidade ficou a ser seu Tio.

Com tudo isto, só matemáticos credenciados estarão à altura de resolver os problemas familiares…enfim!...
Claro que para as nossas crianças, habituadas aos complicados jogos das consolas, a adaptação a tudo isto será relativamente simples.
Para nós os adultos, habituados aos complicados esquemas da sociedade onde vivemos, também temos hipótese de conseguir a necessária adaptação a todas estas actualizações.
Ao que dificilmente nos habituaremos é a esta sensação de que a instituição familiar é algo que flutua ao sabor dos diversos critérios governantes.
Creiam-me: longe de mim discriminar ou condenar socialmente alguém em função da sua orientação sexual mas, por favor, não me corrijam o sentido familiar que tão bem me foi incutido pelos meus pais.

Nada tenho contra qualquer tipo de junções, sejam do mesmo sexo, sejam entre periquitos e avestruzes. Todos temos direito à nossa opção mas, peço, não abalem o meu sentido de família… ou vejo-me obrigado a fazer queixa ao meu progenitor A...

4 comentários:

Anónimo disse...

Esse conceito é engraçado. Podiamos ter tios AB e sangue primo, por exemplo. As fotos de familia eram páginas do código da biblia; o nosso apelido só podia ser escrito em cifra, com uma daquelas réguas malucas; o jantar de Natal era sopa de letras, etc. :-)

joao "ink"

Anónimo disse...

Parabéns, Esta escrita é muito acessível, pragmática e com uma certa ironia á mistura como é apanágio teu.

Anónimo disse...

Obrigado, José Martinho. Mas devemos também dar algum mérito ao post do joão.

joao ink

Anónimo disse...

Este rapaz já não me espanta. Os ares da serra e os pratos ornamentados com delicias regionais, acompanhados pelo vinho que o tio Tó fornece, deixam-lhe estes intensos desejos e exprimir o seu descontentamento de forma interessante. Neste caso caro João, somos primos de que letra??? V, V de vinho. Eu sabia que me compreendias. Boa continuação.