quarta-feira, junho 29, 2005

Locomoção - Análise problemática

Pois é...imaginaram, caros leitores, que se iriam escapar a mais uma das minhas análises problemáticas? Calculo que não...semana nova, análise nova. Faz sentido, e continuo a salvaguardar este meu modesto ganha-pão. Aproveito então o momento, e sigo directo para o tema a que hoje me proponho: a questão histórica da locomoção humana...de forma a melhor entendermos a realidade automobilística actual. Com efeito, muito pouca gente sobrevive sem o seu automóvel, por um lado indispensável, e, por outro, eterna fonte de problemas. Assim sendo, permitam-me recuar um pouco no tempo, por forma a iniciar um maior enquadramento histórico.
E já existia, por alturas do paleolítico, aquele género de discussão a todos tão familiar:
-“Acho que o meu Dinossauro está a gastar muito...”
-“Sim”?...Muito?...”
- “Acabou de me comer a sogra e metade da cunhada...e nem sequer deu para chegar à
caverna...”
Consumo...sempre o consumo. Mas, à semelhança da actualidade, existiam também energias alternativas:
- Viste...se fizesses como eu...o meu anda a gases...
- Siiim...é boa ideia...mas depois não posso estacionar nos Parques... a transformação é
cara...não sei...
- Acaba por compensar...
Como vêm, o sempre presente problema da economia, que em parte beneficiava os argumentos dos nossos primitivos vendedores de Automóveis:
- “É garantido... este dinossauro com meio eucalipto dá-lhe três voltas ao vulcão...sempre com o
maior conforto...”
- “Sim...mas isso é enquanto é novo”...
- Nem pensar... se tiver cuidado com as revisões, dura-lhe uma vida...
E, com o evoluir dos meios de locomoção, sucederam-se os primeiros vestígios daquilo que evoluiu para o que hoje chamamos “Brigada de transito”:
-“Boa tarde...os seus documentos, por favor?”
- “Mas...fiz algo de mal, Sr. Agente?”...
- “Depende...se não considerar o facto de ter entrado em contramão nesta avenida como errado,
então está tudo bem...eu, no entanto, discordo...
-“Mas... ainda não inventaram os sinais de transito...
- “Desculpas...”
Como vêem, a autoridade da época já dotada de um vocabulário que faria corar muitos dos seus sucessores, sempre esteve ciente das suas obrigações para com a sociedade, não perdoando aos infractores:
-“ ...e pronto...tem dez dias para pagar a multa”...
Há igualmente registo das primeiras tentativas de suborno:
- “Ó Sr. Agente...porque é que não esquecemos tudo isto?...Descobri aqui um envelope...já estou
atrasado...tenho de ir à caça com a minha mulher...fique você com ele...
Infelizmente, não temos registo da atitude do agente. Resta-nos crer que agiu nos moldes que lhe competia. Existia também o “balão”...o famoso “balão” que grande parte dos actuais automobilistas receia:
-“Boa tarde...bebeu alguma coisa?”...
- “Não Sr. Agente... nunca bebo quando conduzo....”
- “Sopre aqui, por favor...”
Bizarro costume este, tendo em conta que as bebidas alcoólicas só foram inventadas uns séculos mais tarde... mas, mais vale prevenir...
E mesmo nesses tempos tão remotos, os já então condutores se sujeitavam aqueles infortúnios que todos tão bem conhecemos:
-“ Não...rebocaram-me o dinossauro!”...
- “Onde o deixas-te?”...
- “Aqui!”
- “Olha que tu...aqui é reboque certo...”
Ou mesmo noutro tipo de casos:
-“ Só me faltava esta...bloquearam-me as patas ao animal...”
-“Puseste moeda no parquímetro?...”
-“Como? Ainda não inventaram o dinheiro...”
E, evidentemente, já tínhamos os clássicos engarrafamentos matinais na entrada das grandes aglomerações populacionais, com o vernáculo a condizer:
- Anda lá com isso...
- Calminha...`tás com pressa, viesses mais cedo...
-“Eu cá trabalho...”
-“E eu?...Ando a brincar?”...
Foi destas estas épocas que apareceram os primeiros relatos de tentativas de domesticação a dinossauros de maior porte, com vista ao desenvolvimento de uma rede de transportes públicos.
Às primeiras iniciativas, não conseguiram mais do que entrar na ementa destes gigantescos répteis. Optaram então por investir depois da refeição, uma vez que as hipóteses de êxito dos referidos empresários domesticadores se afiguravam maiores quando os bichos já estivessem saciados... o que só fracassou pela primitiva irregularidade gastronómica, que nos leva a concluir com alguma certeza, a incerteza nos horários da nutrição paleolítica. De qualquer forma, foram igualmente digeridos e a então empresa resolveu cancelar o projecto durante alguns Séculos.
Sou mais uma vez forçado a suspender, vitimado por óbvia falta de espaço, esta ainda incompleta análise. Prometo no entanto regressar, e terminá-la. Agradeço a sua paciência, caro leitor, mas fique certo que o seu grau de compreensão em matérias rodoviárias vai sair profundamente beneficiado. Até breve!

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