sábado, julho 02, 2005

Infortúnios – Análise problemática

E bem...cá estou, conforme seria de esperar, para vos obsequiar com algo verdadeiramente pessoal. Como sabem, meus caros e insubstituíveis leitores... as minhas análises sempre o foram... mas enfim... como fui protagonista de um recente e bastante insólito episódio, arrisco-me a partilha-lo com vocês.

Beneficiava eu dos prazeres da Primavera em Vila Nova de Milfontes, quando tive a infeliz ideia de telefonar a um amigo, indagando por referências gastronómicas da região. F.(o amigo) incentivou-me a uma deslocação ao belo sítio de Porto Covo, onde em determinado tasco, os petiscos eram divinais.
E segui, estando longe de imaginar o desfecho de tão infeliz conselho. Chegado ao destino constatei que, por ser época baixa, não existiam nem metade dos afamados manjares.

Nutri-me com uma satisfatória salada de polvo e com o tão típico choco frito. Fui então tentado a rematar tudo isto com uma vulgar bifana... a responsável por todas as minhas futuras desventuras. E regressei ao lar, doce lar.

Cerca das 23H, sou invadido por uma sensação de profunda indigestão. Que se passaria? A indisposição tomou por fim moldes trágicos, o que me forçou a telefonar já em desespero para o 112. O interlocutor, com o seu acentuado sotaque Alentejano, sugeriu que me deslocasse ao Hospital de Odemira, a 30Km da minha casa, ou seja, da casa de um amigo que gentilmente a cedeu para estas minhas mini-férias.

Fiz-lhe ver que a sua proposta não era razoável, tendo em conta que nem sequer conseguia encarar a hipótese de me mexer. Optou então por enviar uma ambulância, facto só dificultado pela minha absoluta ignorância em relação à correcta direcção da casa.
Mais explicação, menos explicação e lá apareceu. Entrei nela em estado absolutamente crítico, depois de devolver ao exterior tudo o que houvera ingerido no Tasco aconselhado pelo “amigo”. Pouco depois, sou brindado pela companhia de um casal de feirantes com dois dos seus respectivos rebentos.
O pai, criatura algo rude e bastante desiludida com o atraso da viatura, brinda-nos a todos com um monólogo intrinsecamente pessoal sobre a inadmissível situação da demora, culminando na destruição maciça da árvore genealógica do condutor.
Os petizes choravam, a mãe mandava calar o pai que por sua vez mandava calar a mãe. O condutor seguia e eu gemia...quadro completo, como imaginam.

Uma vez no hospital e contorcido com insuportáveis dores, calculei que de pronto seria atendido. Meia hora depois, tenho finalmente a visão do que me pareceu ser uma enfermeira. Com a pouca energia que tinha, esforcei-me por lhe relatar o meu caso... Tarefa ingrata: Quanto mais me contorcia mais ela me indagava o código postal e o nome da rua de onde vinha. Resolvido este pequeno pormenor, tive então direito à posição horizontal numa confortável maca.

Fui novamente brindado com 45 minutos de puro isolamento, com vista a uma eventual limpeza de espírito, supus. Tenho então e como recompensa, a presença de um legítimo licenciado em Medicina, que empurra a minha maca para outra sala onde se encontravam os meus já conhecidos companheiros de viagem. À medida que me colocavam o soro, assisti à nobre tarefa do pai, já bastante alterado pela situação, convencer a herdeira a “evacuar” para um penico posto no meio da sala. –“Faz força”- Dizia-lhe...-“Faz força que faz bem”.
E foi já com a seringa no braço que assisti, como se de algo normal se tratasse, à indisposição da outra criança ter repercussões sobre grande parte de um inocente sofá que jazia tranquilo no seu canto. E choravam...e o pai voltou a gritar pelo Médico...e a Mãe continuou a mandar calar o Pai...e eu continuei a gemer.

Foi a última vez que tive contacto com Almas humanas nessa noite. Não sei o que sucedeu aos meus colegas de viagem e sofrimento. Só pelas 9h da manhã visualizei novamente o Médico, que me retirou o soro e disse que “estava livre” para sair quando quisesse. Tentei abusar um pouco mais da hospitalidade, dado que ainda não me sentia bem, mas melhorei rapidamente quando a Enfermeira precisou da maca para outro paciente.

Levantei-me, segui para a porta, chamei um Táxi e regressei a Vila Nova onde cheguei no princípio da manhã. Intoxicação alimentar, disseram-me. Resta-me portanto agradecer ao meu amigo F. o conselho do Restaurante e à hospitalidade do Hospital de Odemira, pois foi graças a todos eles que tive uma noite invulgarmente diferente. Bem hajam!

--?--

2 comentários:

Anónimo disse...

Menos criativo... mas bastante razoável!!!!

Anónimo disse...

Lamento o azar... Mas a costa alentejana tem outros lugares aprazíveis que, certamente, desconhece... ;)