sábado, julho 02, 2005

SEMÁFOROS-ANÁLISE PROBLEMÁTICA

Não passa de um vulgar e banal semáforo...que poderá existir de atractivo em semelhante objecto? Alto e cinzento, tem como único objectivo controlar os fluxos de trânsito que o rodeiam. E lá fica, imóvel no seu canto, em constante câmbio de luzes.

Compreendo a sua posição, caro leitor, quando afirma que não é dos objectos mais interessantes. Calculo no entanto a sua curiosidade em terminar de ler estas linhas pelo simples facto de conhecer o grau de paranóia que leva alguém a manifestar-se sobre tão árido tema.
Bem, é a partir daqui, caro leitor, que entramos em contradição...pois sou da opinião que o referido objecto atinge um grau de civilização muito superior à grande parte, por exemplo, dos automobilistas deste país.

Senão, vejamos: por muito ácido úrico que exista acumulado na sua bexiga, não há relato de nenhum semáforo a ser passeado pela sua dona e a verter águas para cima de qualquer indefeso canídeo que por ali repousasse.
Calculo que por agora, caro leitor, a hipótese de uma mudança de opinião a respeito do inocente objecto já se comece a afigurar como válida.

Mas, há mais: há pouco tempo, uma vizinha minha colidiu inadvertidamente no semáforo da esquina, aquando uma das suas muitas infrutíferas tentativas de estacionamento em marcha-atrás.
Ao ouvir o embate, sai nervosa do carro para verificar os estragos – não do inocente semáforo- mas sim do carro que o marido tão gentilmente lhe confiara.
Verificando ser só um arranhão insiste na manobra, tendo por acrescento ao seu já perturbado estado de espírito o coro de proporções Búlgaras das buzinas dos automobilistas que pela situação se viram impedidos de rumar aos seus “doces lares” e assistir ao último episódio do BIG BROTHER VIII. Nova tentativa, nova pancada no desgraçado semáforo.
Tomada por um repente de energia, sai do carro e grita nervosa para os selváticos declamadores de buzina: “- Então não vêm que a culpa é do poste??? Estão pr`aí a buzinar...”. Dito isto entra novamente para o veículo, esquece a manobra, e arranca esbaforida pela Avenida. Reparem...o inocente do semáforo não só foi açoitado com duas magníficas pancadas ao nível do baixo-ventre, como ainda o insultam e o responsabilizam pela situação.

Francamente...não me lembro de nenhum semáforo em movimento a agredir um automóvel estacionado...mas pode ser culpa da minha assumida imaturidade neste tipo de situações.
Outro tipo de agressão a que estes desgraçados estão sujeitos é o assumido desprezo linguístico por parte de um género verbalmente aguerrido de automobilistas: “-Sacana... nunca mais abre”. Imagine-se, como se fosse uma lata de conserva com o fecho partido e, para cúmulo do desprezo, arrancam sem respeitar a sua autoridade luminosa.

Ó meus amigos e devotos leitores, será justo insultar os já tão fustigados semáforos unicamente pela sua dedicação ao dever? Que seria do mundo se fossem eles a insultar quem passa, por este tipo de motivos absurdos? Suponham que por motivos sindicais deixavam de trabalhar e iam reivindicar os seus direitos para a frente da Assembleia da República...ou pior ainda, utilizavam as luzes a seu bel-prazer. Aí sim, poderiam facilitar a deslocação aos condutores mais apressados, evitando assim ser insultados em toda a sua árvore genealógica. Seria no entanto ético?
Facilitar a passagem a uns motivaria de imediato o atraso de outros...o que numa sociedade Democrática me parece pouco justo, embora seja facto corrente em alguns sectores.
Digo-vos: encaro esses objectos como nobres Bastiões da ordem social. Como funcionários públicos que são, nunca os vi a tomar café às 11h na pastelaria da esquina nem sair do trabalho às 17h30m. Trabalham a tempo inteiro e não reclamam horas extra. Mediante o panorama, caro leitor, terão as minhas modestas linhas conseguido alterar a sua opinião?



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1 comentário:

Anónimo disse...

Belíssima análise...parabéns!!!!