quinta-feira, janeiro 19, 2006

Tecnologia – Análise problemática

Tecnologia… Que seria de nós sem o frigorífico ou a máquina de lavar… sem o telefone ou o DVD?... Eu respondo: primatas. Primatas na verdadeira acessão da palavra. Provavelmente, ainda pularíamos de árvore em árvore e puxaríamos as esposas pelos cabelos quando quiséssemos jantar pronto.
Nos tempos que correm, nada disto é necessário. Bendita tecnologia.
Só resta saber o que acontece em caso de falha… Alguém pensou nisso?
Bem, eu próprio vos confesso que não… até este meu recente episódio.
Vejamos: Um belo e ensolarado dia, constato que o meu telefone fixo deixou de funcionar. O que para o comum dos mortais seria motivo de pronta eutanásia, para mim foi apenas um detalhe de percurso… supunha eu! Vou à cabine telefónica mais próxima e tento ligar para o operador. Deparo-me com uma daquelas gravações, qual “ciborgue” de filme Americano, passíveis de fazer perder a paciência a qualquer Santo. Daquelas que nos vão obrigando a carregar em todas as teclas para chegarmos ao nosso destino. O leitor sabe a que me refiro.”Um, agora quatro, três, dois e depois cinco... Obrigado por ter aguardado” E aguardei… até me aparecer novamente a angélica voz que me informava “por haver longa fila de espera, por favor tente mais tarde”. Reparem… dez minutos de absoluta inutilidade, quase quatro euros de despesa e o problema absolutamente na mesma. Querida tecnologia!
Fui obrigado a repetir a façanha nessa mesma noite. Lá cliquei em mais umas teclas, lá paguei mais uns quatro euros e lá ficou tudo na mesma. Por ironia do destino, foi a ligação à Internet que desapareceu nessa mesma noite. Não queiram experimentar a sensação de não poder comunicar. É certo que os nossos avós sempre estiveram assim e duraram bastante… mas eram outros tempos. Actualmente, senti-me naufrago… Cheguei a encarar a hipótese de mudar de religião mas, como sou naturalmente calmo, resolvi aguardar pelo próximo dia.
Na manhã seguinte, como por milagre, consigo falar com um ser humano. Acreditam? Ia lá imaginar que o operador também tem a seu serviço seres humanos. Enfim… Fui informado que por ter “pressionado incorrectamente as teclas”, dei ordem para que a Internet fosse desactivada. Eu?... Eu que nem o esquentador sei desligar, como consegui semelhante proeza?... Mistérios da tecnologia… mas fiquei com a garantia que tudo seria reparado nesse mesmo dia. Claro que hoje, três semanas depois, tudo continua na mesma. Nem Internet nem telefone. Realmente, conseguiremos viver sem tecnologia?... O contacto humano está cada vez mais desvalorizado em relação ao automático, tudo com vista a ganhar tempo e dinheiro. Justificará a troca? Receio até que venham a incluir na porta das Igrejas um confessionário electrónico? “Por favor, introduza a moeda e seleccione o tipo de pecado. Esse pecado é grande demais. Introduza outra moeda. Aguarde enquanto imprimimos a sua absolvição. Obrigado por preferir a nossa Igreja”.
Pois é! Não se ria, caro leitor. Estes automatismos tecnológicos são o que a nossa sociedade projecta para o seu futuro. Calculo ser agradável não ter de pagar ordenado a um gravador de voz que nem hora de almoço tem… O verdadeiro custo será, a meu ver, a total desertificação da componente humana que, com os seus defeitos e virtudes, sempre é um tipo de comunicação a que estamos acostumados. Será realmente mais rentável?... O futuro o dirá… e acreditem: tenho as minhas dúvidas…

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